Saúde é um tema que vem ganhando espaço na televisão aberta. O Brasil é grande e a informação mais básica muitas vezes não chega às pessoas que, no entanto, sempre contam com um aparelho de TV em casa. Este tipo de programa tem, portanto, uma função social. E um público ávido. A Globo lançou o “Bem estar”, muito informativo embora sem grandes ousadias de formato. Na atração, um grupo de médicos sérios responde a dúvidas comuns e nem por isso desimportantes, aliás, muito pelo contrário. O “RJ-TV” tem o comentarista Luiz Fernando Correia e o “Mais você”, o médico Guilherme Furtado. Em todos os casos, é possível perceber claramente a preocupação com a informação em primeiro lugar.
A Record acaba de estrear “E aí, doutor?”, em que é tudo diferente. O programa abraça com vontade uma veia popularesca e a informação médica é o que menos importa. Seu apresentador, Antônio Sproesser, é um clínico geral com uma missão bem distante daquelas previstas pelo juramento de Hipócrates: ele anima um auditório de senhoras de meia-idade com aspecto de hipocondríaca preocupação. Se isso já diz muito, tem mais. Dr. Sproesser faz um show para as suas “colegas de trabalho”. Silvio Santos que se cuide. Ele tem timing, olha para a câmera certa e não deixa a peteca cair. Em publicidade, se daria bem como garoto-propaganda das Casas Bahia, por exemplo. Em outro horário da Record, poderia estar comandando sessões de descarrego. Como programa médico, “E aí doutor?” é muito ruim. Não à toa, conta com audiência irregular.
Há momentos inacreditáveis. Por exemplo, um game. Esta semana, promoveram uma disputa em torno do tema “enxaqueca”. Duas pessoas da plateia escolhiam entre três alimentos propostos e apontavam um deles como vilão. Tudo isso entre uivos, gritaria e palmas do auditório. Não será surpresa se vierem a lançar ali um show de calouros temático. Antônio Sproesser é o Datena da doença. Sei não. Para quem se informa pela televisão, há mais causas para dor de cabeça do que possa supor a nossa vã filosofia.
O Globo
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